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Lourival ficou conhecido como príncipe das águas e menino peixe quando nadava na Lagoa da Pampulha, nos anos 1960. Cerca de 40 anos depois, está obeso, correndo risco de morrer. A palavra “morte” aparece com frequência em um sonho dele, quase um pesadelo, que se repete. Ele acorda assustado, chegando a ter sede insuportável.
No sonho, seu filho de 19 anos, chamado Pedro, está no lugar de D. Pedro I, no quadro que comemora a independência do Brasil. Pedro grita Independência ou morte! Grita para o próprio pai, que, no sonho, está no lugar do cavalo.
Manoel, mecânico filósofo amigo de Lourival, tenta decifrar esse enigma. Lourival está sendo ameaçado de morte pelo próprio filho ou pelo excesso de peso?
No percurso de 400 páginas, Lourival, Manoel e Epaminondas precisam retomar as caminhadas ao centro de Belo Horizonte. Precisam rever o que viveram nos anos 1970, quando vários assuntos eram proibidos, quando pessoas que questionavam o governo desapareciam, sem qualquer explicação.
Há 36 anos que Epaminondas procura por Luana. Ele não sabia que Luana, recém-formada em contabilidade, havia percebido que o que se gastava em apartamentos de luxo serviria para construir dezenas de casas confortáveis e livres do barbeiro de Chagas no sertão mineiro.
Ela previu que quando chegasse a hora de distribuir o bolo acumulado durante o milagre econômico, não haveria como reparti-lo, pois a riqueza do país estaria incrustada na argamassa da ostentação.
Contratada para mostrar aos empregados que eles deviam se conformar com o salário minguado e o trabalho duro, ela inverteu o discurso e lhes mostrou, na ponta do lápis, que não estavam fazendo um mundo melhor para os filhos:
– Para cada apartamento de alto luxo construído, muitas famílias não terão casas.
Não era um discurso permitido naquela época. Por isso, Luana desapareceu. Geralmente, quando os governantes declaram guerra, gritando independência ou morte, quem morre são as pessoas comuns, os soldados. Morrem outros seres vivos que não têm nada a ver com as intrigas humanas.
Estamos a quase 200 anos do grito da independência e ainda não foram resolvidos problemas graves de injustiça social, discriminação contra a mulher, racismo, desigualdade de oportunidade. A pandemia do coronavírus está matando mais pobres do que as pessoas que moram em palácios. O ambiente está sendo depredado.
São sinais de que precisamos nos melhorar como povo e governantes. Que não nos inspiremos mais na antiga frase. Podemos dizer: “independência e vida”. Inclusive, precisamos nos repensar como seres vivos, considerar o cuidado de outras formas de vida.
É crueldade dos seres humanos pensarem que podem depredar a natureza, a floresta amazônica. Como explicar aos animais da floresta que precisam morrer porque os seres humanos querem mais riqueza, querem consumir mais?
A independência de uns não pode continuar ameaçando outros de morte.
Livros.