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“Pode ser que tenhamos que nos arrepender nesta geração. Não apenas pelas palavras mordazes das pessoas más e pelas ações violentas das pessoas más, mas pelo silêncio aterrador e indiferença das pessoas boas.”, disse Martin Luther King Jr .
Quando conheci o pensamento do pastor e ativista social Martin Luther King, eu me perguntei como seria possível um pastor dizer que o arrependimento seria de pessoas comuns. Entendia que o pastor deveria considerar mais o poder do bom Deus do que das pessoas boas. Eu entendia que essa frase deveria ser assim: “o silêncio do bom Deus é mais perigoso que a brutalidade das pessoas más.” Deus é que tinha motivo para se arrepender por ficar em silêncio.
Com o tempo, conversando e observando líderes religiosos de várias igrejas, percebi que eles não acreditam em Deus. Isso é muito fácil de constatar em sequência simples de algumas perguntas e respostas. O que cada um segue é fragmento simbólico, imaginário, evitando, na medida do possível, afirmações difíceis de acreditar. São limites de crença. Limites de crença que até excluem Deus da crença.
Aos 13 anos de idade, Martin Luther King já negava a ressurreição do corpo de Jesus[i]. Nos anos seguintes, passou por momento de ceticismo e questionamentos. Mesmo assim continuou na religião, porque ela já fazia parte dele, não por um evento sobrenatural, mas por entender que religião é vida. No incômodo com a injustiça social, ele decidiu se dedicar à humanidade, em despertar as pessoas boas, com teologia adequada a essa conduta.
Permito-me imaginar que ele procura entender o ser humano e não entender Deus. Por exemplo, para dissertação de doutorado escolheu comparar a concepção que dois pensadores tinham de Deus. Se quisesse entender Deus e acreditasse em Deus, teria perguntado diretamente a Deus como ele é. O silêncio de Deus é um forte motivo para as pessoas não acreditarem nele. Especialmente quem já acreditou e pediu orientações divinas.
Meio século depois da morte de Luther King, seu pensamento é ainda importantíssimo para as gerações atuais. Ainda há muita injustiça e é preciso permitir que crianças e adolescentes tenham o direito de perguntar e aprenderem que o bom Deus não vai mesmo evitar os perigos provocados pelas pessoas más. Que o bom Deus é apenas um amigo imaginário.
Que as boas pessoas se manifestem e que também sejam ouvidas. Se o pré-adolescente Martin Luther King já havia percebido ser irreal a ressurreição do corpo de Jesus, crianças e adolescentes de hoje merecem a oportunidade de não serem obrigadas a acreditar que o sacrifício e morte de Jesus foi boa ideia. Sendo boas pessoas, vão romper o silêncio e mostrar pontos que não devem ser seguidos de jeito nenhum, como, por exemplo, os versículos de 1 Pedro 2:18-19[ii].
[i] https://kinginstitute.stanford.edu/king-papers/documents/autobiography-religious-development
[ii] 1 Pedro 2: 18-19 – 18. Servos, sejam obedientes ao senhor de vocês, com todo o temor. E não somente se ele for bom e cordial, mas também se for mau. 19. Porque isso é agradável a Deus, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus.
Fonte: Bíblia Sagrada, traduzida por João Ferreira Almeida, revista e atualizada, publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil, em 2017, 3ª edição.
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