Veja em vídeo.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, lamentou a descrença de jovens em Deus. Ele falou durante lançamento do programa Ações de Educação em Saúde em Defesa da Vida, em 10 de setembro. Observe:
“A minha pergunta é:
O que aconteceu com a nossa juventude que faz com que eles prefiram a morte do que a vida? Nós temos hoje, no Brasil, motivados, creio eu, meu diagnóstico, por essa quebra de absolutos e de certezas, verdadeiros zumbis existenciais. Não acreditam mais em nada. Desde Deus e política, eles não têm nenhuma motivação.”
É bem certo que o ministro teve uma experiência com a religião bem diferente da minha, já que eu tenho sentimento bem positivo sobre não acreditar em Deus. Não tenho incertezas quando a Deus.
Durante milênios, a crença vem sendo pregada como característica positiva ou virtude de quem crê. Assim, alguém declarar não acreditar em Deus gera incômodo. A crença é considerada importante. Porém, mais importante do que a crença, é realmente existir o objeto da crença, ou seja a existência de Deus. Deus existir é mais importante do que acreditarmos que ele existe. E, mais importante ainda, é a crença coincidir com a existência. Há incontáveis definições de Deus, muitas são excludentes. Além disso, Deus tem mistérios. Sendo assim, muitíssimas pessoas podem pensar ser crentes e, na verdade, acreditam em um símbolo de Deus e não em Deus existente.
A situação pode ser comparada com subir em uma escada no escuro, com forte crença de que há um corrimão protegendo. Mas não existe o corrimão ali. Ou, se existe, está em outra escada. Deus está em outra crença. Mas qual crença?
Afirmações que não se confirmam são as causas de incertezas. Isso gera insegurança, podendo deixar crianças e adolescentes indefesos perante abusadores. Trato disso no vídeo “Abusos: a insegurança na religião”.
Gostaria de ter oportunidade de tranquilizar o ministro Milton Ribeiro. Nunca me senti um zumbi, nunca tive vontade de me suicidar, tenho muita paz com Deus, por considerá-lo fantasia. Sendo fantasia, não preciso acreditar nas maldades que escrevem em nome dele. Assim, não acreditar na existência de Deus é bom para Deus. Não existindo, deixaria de ser culpado, por omissão, de atrocidades que ocorrem no mundo. Não culpo Deus, como também não há mais como condenar antigos profetas e evangelistas por desqualificarem Deus em seus escritos. Eram rudes, precisando se proteger contra tribos inimigas, precisavam evitar serem mortos pelos descrentes.
Entendo que muitas pessoas não têm permissão, pela fé, de considerar que Deus tenha cometido maldades. Há jogos de palavras e frases prontas para essa fé: livre arbítrio, Deus sabe o que faz, a vontade de Deus é soberana. O risco que se tem com isso, é seguirmos exemplos negativos como sendo positivos. Cometer maldades e provocar sofrimento como se fossem boas atitudes. A derrubada das torres gêmeas em Nova Iorque, por exemplo, foi feita em nome de Deus. É uma maldade feita por pessoas que acreditavam estar fazendo uma coisa positiva me nome de Deus.
No meu entendimento sobre responsabilidade familiar, em dar exemplo como pai e avô, tenho clareza de que há vários exemplos de Deus na Bíblia que não são saudáveis. São decepcionantes para crianças, adolescentes e jovens. Esses pontos podem ter causado a incerteza que levou o ministro da Educação a considerá-los zumbis.
Vou citar alguns exemplos. Não todos, porque são muitos. São exemplos relacionados com conduta familiar, considerando Deus como pai, como é nomeado.
Gênesis 3 – Como Deus sabe de todas as coisas, é de considerar que ele sabia que a serpente estava por ali, quando deixou Adão e Eva sem proteção. Imagine, em nosso mundo atual, um pai seguindo esse exemplo de Deus, deixando seus filhos em situação de risco. O abuso de crianças por parentes e líderes religiosos é semelhante a esse exemplo de Deus.
Gênesis 3 – Deus foi muito severo com Adão e Eva. E não castigou apenas os dois. Castigou também a descendência. Gostaria que o ministro da Justiça entendesse que não é justo castigar filhos por erros dos pais, que o ministro da Educação entendesse que castigo não é boa pedagogia. Que a ministra da família entendesse que castigar filhos pelos erros dos pais dificulta a harmonia familiar. Aquele Deus do criacionismo não é boa referência.
Gênesis 8 e Gênesis 19:24 – Deus poderia ter educado as pessoas e não as matar com o dilúvio e destruição de Sodoma e Gomorra. Espero que o ministro da Educação reflita sobre isso.
Mateus 11:23 – Até Jesus indica que Deus exagerou, dizendo que Sodoma não seria condenada se Deus tivesse feito ali todos os milagres que fizeram em Cafarnaum. Deus optou por castigar e não educar. Acreditar nesse Deus pode nos tornar violentos.
Gênesis 12 a 35 – A família de Abraão até Levi (quatro gerações) comete diversas mentiras, enganações e maldades sob a proteção de Deus. E lucraram com essas irregularidades. Não são boas referências para lideranças. Escolhidos de Deus na liderança de povos podem se espelhar nessas histórias e se permitir mentir, enganar e castigar o povo em benefício próprio.
2 Samuel 11 – Há mais exemplos de líderes negativos, como o de Davi, que seduziu a mulher de um de seus soldados dedicados a ele. E Davi provocou a morte do marido para ficar com ela. A mulheres que viria ser a mãe de Salomão. A família de Davi era tão desorientada que, contrário à tradição, foi o filho caçula, que herdou o trono. Os irmãos mais velhos se perderam.
É difícil uma adolescente consciente entender que possa ser bondade de Deus engravidar Maria, que estava em compromissos com José. E José ter de criar o filho de Deus como se fosse filho dele. Mais complexo ainda é Deus ter planejado a morte de Cristo com antecedência, sem considerar o sofrimento de Maria, sem ouvir Maria, que teria muitas ideias para evitar que o filho fosse morto. Tudo isso poderia ter sido evitado, se Deus não tivesse se descuidado de Adão e Eva.
Gostaria que os ministros pastores pensassem sobre isso. Há uma sutil semelhança entre o cristianismo e a automutilação de jovens e os rituais satânicos. O autoflagelo é tradição no cristianismo. A tortura e o derramamento de sangue de Jesus, um ser puro sendo sacrificado para perdoar pecadores, é parecido com a tortura e sacrifício de seres inocentes para benefícios de seus algozes.
Os ministros religiosos podem contribuir para a educação dos jovens por meio da revisão dos dogmas antigos.
Rever as crenças, evitando seus pontos negativos por meio do esclarecimento, pode contribuir para reduzir o sofrimento nesse planeta. Reduzir o sofrimento humano e, também, o sofrimento de outras espécies. Afinal, outras formas de vida não têm de pagar pelos erros humanos.
Apocalipse 16 – Não seria justo matar os seres vivos do mar para castigar humanos, como prevê o Apocalipse. E bom lembrar que o Apocalipse indica que Deus não vai conseguir o respeito das pessoas por meio do castigo. O melhor caminho é educação, com boa pedagogia.
Trato esses assuntos com mais detalhes em meu livro Os Limites da Crença. É um romance. Na ficção eu posso sugerir um Deus melhor do que o oferecido pela Bíblia. Por exemplo: inspirados nos poderes de Deus citados na Bíblia, os personagens imaginam Deus realizando dez bênçãos no Egito e não as dez pragas. Se tivesse acontecido como acontece no meu livro, não diríamos que somos um povo temente a Deus. Diríamos que somos um povo que ama Deus. E amando Deus não por determinação do mandamento, mas por Deus ser amável e não temível.
Com a ficção, apresentamos possibilidades com que nos abrimos para verificar a validade de histórias ancestrais. Podemos, assim, repovoar as igrejas com pessoas buscando o bom convívio, a solidariedade, o esclarecimento. Essas pessoas poderão entender as causas do sofrimento de seus antepassados, meio de repensar suas crenças de modo a evitar o sofrimento de seus filhos e netos.
Ao dizer que os jovens parecem zumbis, o ministro da Educação citou também que eles não acreditam em política Sobre os jovens não acreditarem em política eu trato em outra publicação, com o selo Viver 5S.
Livros.