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Veja em vídeo.

Com o poder da proteção divina ensinado pelas religiões, não deveria haver abuso no meio religioso.

É importante verificar com sinceridade as causas dos abusos. Orientações para a crença podem estar colocando crianças e adolescentes em situação de risco.

Tendo certeza da proteção divina, a criança não vai pedir socorro de pessoas comuns. Afinal, foi-lhe ensinado que Deus é melhor e mais poderoso do que as pessoas.  Se o abuso é feito por algum familiar, padre ou pastor evangélico, a criança pode entender que é vontade de Deus. No cristianismo, o sofrimento e o sacrifício são considerados vontades de Deus. A criança pode entender que foi escolhida para o martírio, sentir-se especial. Sentir-se como Jesus, imaginar que será uma honra ser sacrificada como Jesus foi sacrificado. Aceitar ser sacrificada para ser honrada.

No futuro, quando tiver consciência de que sofreu abuso, a vergonha e o medo de falar podem levá-la à depressão.

O namorado abusador pode usar de características de Deus para exigir relação sexual de namorada adolescente. Geralmente, o namorado abusador é misterioso, do mesmo jeito que Deus tem mistérios. Exige ser amado, do mesmo modo que Deus exigiu ser amado nos Dez Mandamentos. Impõe medo, como Deus impõe temor em vários pontos das escrituras. Sendo orientada a amar um Deus misterioso, que exige amor e impõe temor, a adolescente religiosa pode se iludir ao encontrar essas características no namorado. Se a adolescente não foi convencida de que precisa se entregar para provar que o ama, o abusador tem outro argumento da religião para convencê-la: até Deus exigiu prova de fidelidade, quando pediu a Abraão que sacrificasse o próprio filho. Fragilizada pela força do namorado abusador, a adolescente aceita, mas teme se engravidar. Então, lembra-se de que Jesus disse que basta fazer uma oração no quarto fechado, que Deus, observando em secreto, vai recompensá-la. Lembra que Deus sabe qual é a recompensa que ela precisa. Deus saberia que ela precisa não engravidar. 

Mesmo assim, adolescentes e até mesmo crianças engravidam. Religiosos dizem que o filho é presente de Deus. Um presente que ela não queria e não podia receber de jeito nenhum. Os religiosos tentam convencê-la a aceitar o presente que ela não tem maturidade física e psicológica para criar. Um presente que pode matá-la, causando a morte do presente de Deus.

As instituições religiosas, educadores, pais, mães, avôs e avós precisam verificar suas orientações para a crença. Podem estar deixando crianças e adolescentes vulneráveis nas mãos de abusadores. Um dos sinais do risco é os filhos entregarem sua proteção exclusivamente no socorro divino. É preciso verificar antes que morram. O sofrimento pode levá-las a pensar em suicídio, como aconteceu com a ministra Damares Alves.

O conhecimento será útil para as religiões evitarem estimular crenças em proteção divina que não tem garantia. Também não se deve pregar que o socorro divino chega no último momento, como aconteceu com a ministra Damares. Ela conta que só não se suicidou porque foi socorrida por Jesus quando já ia se envenenar. Esse tipo de narrativa pode provocar efeito colateral irrecuperável. Ao ouvir histórias de socorro em último momento, a criança ou o adolescente pode se atirar do alto de um prédio, motivado por fé infinita de que Jesus vem segurá-lo nos braços. Uma linda história para contar nas igrejas, na televisão e na internet.

As histórias de socorro em último momento podem ter provocado muitas mortes, com grande decepção da vítima em seus últimos segundos de consciência. É preciso verificar com amigos e familiares da vítima se foi a orientação religiosa que a levou à morte.

Com verificação sincera de possíveis efeitos indesejados das religiões, podemos melhorar as crenças com esclarecimento, evitando impor crenças absurdas aos nossos filhos e netos. Precisamos aceitar fazer revisão das orientações religiosas que aprendemos com nossos pais e avós.  Se já faleceram e não temos mais como evitar o sofrimento religioso deles, podemos, pelo menos, evitar o sofrimento religioso das próximas gerações.

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