O que eles viveram nos últimos cinquenta anos é muito parecido com a vida das pessoas que você conhece. Conhece por ouvir, ver por aí ou nos espelhos. Espelhos do banheiro, das lojas, dos ambientes públicos, que mostram o presente e o passado acumulado. São sinais que interpretamos superficialmente, na correria da vida, corrigindo a falha de ontem, enquanto se falha hoje para corrigir amanhã. Ignoramos que descuidamos do que devíamos ter cuidado, que assumimos o que não é nossa responsabilidade. Ignoramos a autodisciplina que não tivemos, a autodisciplina que deixamos aos cuidados de outros, a autodisciplina dos outros que controlamos. A autodisciplina terceirizada.
As chaves para o resgate da existência de um homem estão no quadro “Independência ou Morte”, do Museu Paulista, em São Paulo, e sob as águas da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. Mas é na Praça Marília de Dirceu, com testemunho de Camões e Gonzaga que se vai além da dor. Além da dor poética de Fernando Pessoa.
“Valeu a pena? Tudo vale a pena, se a alma não é pequena.”
Eles foram transformados pelos relacionamentos, pela poesia, pela filosofia e pela literatura, como bichos. Influenciados por bichos de todo o mundo, mergulhando nas águas cristalinas do Rio Paquequer, onde nadou o índio guarani de José de Alencar. Viajando na simplicidade de Cândido, de Voltaire. Apaixonando com Romeu e Julieta, de Shakespeare.
Precisam dar sobrevida a Romeu e Julieta. Precisam se livrar do estigma do pecado original de Adão e Eva.
Espelhando-se na natureza, na diversidade de plantas e animais ao redor do mundo, entendem que a tortura, a opressão e o costume de ameaçar de se tornar mártires devem deixar de conduzir o destino das pessoas. Para que as pessoas possam resgatar o que haveriam de ser no cuidado da vida.
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