O nome Além da Borda foi inspirado em bonsais. No romance O Resgate da Existência, os bonsais são referências simbólicas de pessoas e deuses controlados por terceiros.
Bonsai, para quem não conhece, significa árvore na bandeja. Espécies que poderiam alcançar dez metros de altura são limitadas a cerca de 50 centímetros.
Não é possível saber como se sente a árvore escolhida para se tornar um bonsai. Mesmo sendo um ser vivo, ela não tem como argumentar, opinar no projeto em que é moldada.
Os seres humanos, sim, têm o poder da fala. Mas, por vezes, não falamos o que gostaríamos de falar. Há forças ocultas, as bordas da bandeja que nos obrigam a seguir os costumes, a política, a religião, o time de futebol do microcosmo a que pertencemos. Somos contidos e moldados ao longo da vida, condicionados a ser o que outros determinam.
Por isso, depois de décadas sem se ver, amigos percebem que ficaram bem diferentes um do outro.
Teriam que se rejeitar? Mas são amigos! Há muitas recordações comuns que não podem ser ignoradas. São raízes persistentes. Isso acontece com muita gente.
Há uma saída. Em uma bandeja dos tempos de criança, podem se relacionar com seus pontos comuns, evitando os assuntos conflitantes, como política partidária, religião, valores morais.
Isso dá certo quando nenhum deles se tornou soldado em seu grupo, com a missão de destruir outras ideias ou até matar quem pensa diferente. Nesse caso, as lições de respeito ao outro que aprenderam quando criança pode fazer diferença.
Pedem uma última chance. Usam a velha bandeja como local de conversa e exposição de suas crenças.
Antes de tentar destruir, tentar conquistar.
Na tentativa de um convencer o outro, precisam repensar as origens de suas convicções. Assim descobrem seus preconceitos e dogmas não têm fundamento e nem sentido.
Quando cada um reconhece o próprio radicalismo nocivo e as qualidades no outro, suavizam as arestas, apoiando-se no melhor de cada lado, sintonizando o entendimento do mundo como um todo, nutrindo-se e respirando além das bordas da bandeja.